sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Colo

A amiga vem chamar no msn e pede pra sair amanhã, sábado, porque o namorado acabou com ela e ela está inconsolável. O dia está corrido, tem voo em Guarulhos pra pegar, mas a gente dá um jeitinho aqui, ali, acolá e, pronto!, arruma um tempinho pra almoçar com a amiga.

A amiga também faria isso por mim, caso a gente pedisse. Mas pedir ajuda é uma arte.

Eu não sei pedir ajuda. Nunca soube. Na oitava série, quando o namorado brigou comigo na viagem de formatura, saí pra chorar em um cantinho e as amigas ficaram desesperadas, e o namorado também, tanto que depois jurou me amar pelo resto da vida até o final do ano.

Também fui chorar escondida quando, no ensino médio, o ídolo morreu depois de um acidente em um rali. Ou quando eu gostava demais. Porque gostar demais dói muito, e a gente chora. Mas é pior quando a gente chora sozinha, escondida num cantinho. E eu sou assim.

Eu sou escolada em outra arte: a de sorrir, não importa o que aconteça. A de fingir que está tudo bem, obrigada, ele não estraçalhou meu coração, até faço piada com isso, não tá vendo? É o sorriso do Playmobil que, faça chuva, faça sol, está lá estampado no rosto.

E aí a amiga vem pedir ajuda e a gente vai lá oferecer o ombro, mesmo que esteja precisando de colo, de abraço, de carinho. Porque a gente não sabe pedir isso, a gente chora baixinho pra ninguém ouvir, sofre baixinho, dói baixinho.

E quando a gente não consegue sofrer baixinho a gente sente vergonha. Como quando abraçou o Zé no velório do Vicente e chorou todo o choro do mundo, até sentir a dor diminuir um pouco. Mas a gente não sabe chorar no colo dos outros, então a gente fica envergonhada porque o fez.

Mas algum dia a gente aprende que pedir colo de vez em quando não faz mal a ninguém.

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