quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

E agora?

Victor Martins, Bruno Vicaria, Flavio Gomes, Fábio Seixas, Marcus Lellis, Rodrigo Mattar. Uma parcela pequena de pessoas que estão com dedos em posição de ataque, olhos e ouvidos atentos ao medor ruído, músculos tensos e que dormirão pra lá da meia-noite.

"É tipo quando um presidente renuncia", foram as palavras do colega Andrei, do Tazio.

Mas janelas não pipocaram no msn, Damien Rice não tocou feito louco no celular, o trim do telefone não se fez ouvir. As ruas não foram tomadas por uma multidão sem rumo.

Dará meia-noite e meia e os caras citados lá no começo estarão na frente do computador, a espera do veredicto final. E quando ele vier, questionarão o que acontecerá agora, qual será o futuro. Porque isso pode ser apenas o começo, a ponta do iceberg.

Mas o mundo não grita, não especula, não se preocupa.

Não se preocupa porque, para muitos, não faz a mínima diferença se a Honda fica ou não. Para outro, é uma pequena tristeza porque Bruno Senna era cotado para uma vaga, é chacota porque Rubens Barrichello ficará a pé, mas é apenas isso.

Para outros, é o alarme de que dias difíceis virão na Fórmula-1.

Mas nada parou por causa disso.

Fui atrás de algumas pessoas pra falar do rally. Onde entra o off-road nessa parada. "Olha, até o momento não tem tantas especulações", disse-me alguém. "Eu acho que o rally se adaptou melhor à redução de custos que a Fórmula 1".

E se for um efeito dominó? Cai um, cai outro, e outro, e outro?

E agora? E, o que mais rondou a minha cabeça, o que seria da gente?

Nada. Migraríamos do automobilismo para outro meio. Não falo de fãs, torcedores, ou outra coisa assim. Falo daquela lista inicial, que dormirá depois da meia-noite, que criará especulações a respeito do futuro da F-1, do automobilismo geral.

Migraríamos porque, afinal, não vivemos para o automobilismo. Somos jornalistas, seja nas pistas ou em qualquer outro lugar. Seguiríamos com nosso trabalho em outra área, nos envolveríamos com outros assuntos.

Seria, sim, bem triste. Mas não seria o fim do mundo. Não seria o fim de nós, nós continuaríamos a existir na guerra, nos problemas da cidade, na ciência, na cultura, na economia, em tudo.

E não apenas como profissionais. Não acabaríamos como pessoas. Ficaríamos desnorteados, aquela coisa de "e agora?", mas continuaríamos vivos, batalhando.

A Honda pode sair da Fórmula 1. Podemos passar a noite em claro esperando mais notícias. Pode ser o prenúncio de que entraremos em época de vacas magras. Mas não vai acabar. E não por um ideal romântico do esporte e blá. Conversa para boi dormir. Isso, como muitas coisas no mundo, gira em torno do financeiro. E se uns caem no prejuízo, outros continuam lucrando. E, enquanto houver lucro, não acaba.

Mas, e se acabasse? E se não existisse mais a F1, o WRC, Le Mans, Indy, nada?



O automobilismo não é tudo. Aliás, é muito menos do que acha que é.

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