domingo, 17 de agosto de 2008

Só um abraço

Eu só queria abraçá-la. Dois segundos ali, o braço em volta do pescoço. Só isso.

Na verdade, não podia fazer mais do que isso. Não tinha muita necessidade. Era um ato egoísta, querer um abraço. Muitos já deviam ter corrido os braços ao seu redor, dito palavras de consolo, no llores, Carolina. Eu queria apenas dar um abraço naquela mulher, um abraço que significasse "ei, você é foda, te admiro!"

Quando Samantha Power disse que ela estava ali, duas cadeiras à minha frente, senti meus olhos encherem de lágrimas. Ali, era como se ela fosse uma parte daquela perna daquela mesa, aquela perna que sumira há cinco anos atrás. Sumira, não; morrera em um ataque terrorista. E ela estava ali, os cabelos loiros presos em um coque, sentada. A mulher que saira à procura do noivo no Canal Hotel.

Sua presença de certa forma mudou o rumo das coisas. Sua pele clara, a roupa em tom pastel, o sapato creme com lacinho, a perna cruzada, tudo ali parecia transparecer serenidade. Em certos momentos sua boca estremecia, como se engolisse o choro que queria sair. As feridas já devem estar cicatrizadas, mas na certa deixaram marcas profundas.

Mas ali estava ela, sentada no palco, microfone em punhos, falando de seu ex-noivo. Com o orgulho que certamente ele merece. E mais orgulhosa ainda por ter à sua frente quem estivesse disposto a levar sua memória adiante.

Foi isso também que senti quando fui falar com ela, Carolina Larriera, livro em mãos. Escreveu em um cantinho da página, com letras miúdas, que esperava que aquele brasileiro tão especial me inspirasse.

Depois, abraçou-me. Um abraço que parecia significar apenas uma coisa: obrigada.


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