quarta-feira, 2 de julho de 2008

Rogério Ceni?

Tudo começou em 2006.

Não.

Começando a história do começo, o princípio de toda essa história se deu mais ou menos em 1998. Naquele ano, toda minha carreira esportiva caminhava para a frase de hoje, aquela que me faria dar um riso nervoso e pensar que certas coisas realmente ficam marcadas.

Era o primeiro ano em que teríamos aula de futebol, eu estava na terceira série. Algumas aulas depois, descobri que minha habilidade com as bolas nos pés era semelhante a de um ornitorrinco jogando peteca - só para frisar quão ruim era minha relação com bolas de futebol.

De cabeça baixa, segui para o único posto que me havia sobrado: o gol. Virei goleira, posição sempre desdenhada pelos grandes artilheiros do futebol amador.

O que ninguém esperava é que aquele ser pequenino se daria bem naquele posto. Apeguei-me a ele como uma criança apega-se a um ursinho. Tinha orgulho de ser número 1, de sempre usar a frase "eu vou no gol!" durante os jogos. Literalmente vesti a camisa daquela posição em que fui jogada.

Quando mudei de colégio, logo assumi o posto de goleira da classe. Fomos vice-campeãs de um torneio e, como boas perdedoras, ficamos putitas com o título. Alegamos que o time adversário tentara nos matar - o que é verdade; toda nossa equipe saiu de quadra com hematomas provocados única e exclusivamente pelas vencedoras. Não colou, ficamos com o segundo lugar.

O tempo passou e, em 2006, me enfiaram em um time de futsal para um torneio. Precisavam de uma goleira, não era nada sério, ninguém sabia jogar, mesmo, por que não?, fui.

Já nos primeiros jogos levei um puta frango. Talvez tenha sido o gol mais idiota da face da terra. Minto. Aqueles em que o goleiro vai fingir ser o bam-bam-bam das dribladas, perde a bola e o gol é feito são piores. Mas o meu chegava bem perto.

Até a final, porém, foi o único. A essa altura, estava isolada na tabela de "goleira menos vazada". Olhava aquele troféu com brilho nos olhos, como se fosse uma piscina de chocolate derretido - tal comparação deve ser por causa da fome.

Jogamos e perdemos. 2 x 0 para o outro time, todo o meu corpo doía, minha mão estava inchada. Fiquei com o troféu, que hoje exibe-se em lugar de orgulho aqui em casa. Junto dele, minha reputação como uma goleira brilhante. Mesmo com os dois gols, defendi uma série de outras boladas. O frango do começo estava esquecido.

No ano passado, o time campeão de 2006 me chamou para jogar. Argumentei que meu passe era muito alto - cof, cof -, não fui. Morria de medo de ter todos os meus ossos quebrados caso tivesse um mal desemprenho.

Dois times vieram atrás de mim nesse ano. Aceitei a proposta de um que prometia camiseta com o número sagrado - um, oras. Hoje me liga uma das meninas. Avisei que não jogava a uns dois anos, não garantia nada. "Mas você é uma supergoleira, tem o dom! Nós é que precisávamos de treino!" Estremeci. E cheguei à conclusão de que não gosto de toda essa história. Jogar um futebolzinho de vez em quando é bom, mas sem essa parte de entrar em campo com todo mundo com mil e umas expectativas para cima de mim. Ninguém se lembra que, para serem o que são, Ceni e Casillas treinam pacas.

Tenho o dom? Só isso não basta. Treino é algo necessário.

Veremos na sexta-feira.

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