quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Pensamentos Soltos

(ou a gaveta de papéis, ou a política e eu, ou do papel para o computador, ou "O Consultor", ou Contos inacabados, para citar Tolkien)

A última gaveta da minha cômoda é destinada a uma reserva de papel. Acho que, incoscientemente, me preparo para o dia em que a revolução tecnológica ou a consciência ecológica botarem fim no papel. O que vier primeiro. Isso também explicaria por que possuo latas cheias de lápis e canetas. Temo que se a ecologia chegar primeiro, serei apedrejada até a morte. Creio que 50% da decoração do meu quarto venha dessas folhas finas de origem vegetal. Isso porque nem contei os livros na estante do corredor! Mas voltemos ao assunto principal...

Dentre anotações para artigos e coberturas de rally, existem vários textos incabados nesses cadernos, blocos e folhas soltas. Aqui mesmo, nesse caderninho em que escrevo, já encontrei algo que envolve um gato, uma caixa e um besouro perneta às duas da manhã.

Um grande aposto

escrevo a tinta pois:

1 - o computador está ocupado;
2 - sempre que surge alguma dificuldade para transformar idéias em palavras, o problema logo é resolvido com algumas páginas preenchidas.

Desde o início, esse texto estava fadado a adormecer naquela gaveta. Isso por que nunca gostei muito de discutir sobre a política que acontece em Brasília. Mas então me dei conta que a matéria assinada por Daniela Pinheiro e publicada na 16ª edição da revista Piauí não era sobre política. São pouco menos de dez páginas. Dez páginas que parecem não ter agradado muito a José Dirceu.

A mim, agradou.

A repórter acompanhou o ex-deputado durante uma semana, período em que passaram por três países. O texto traça um perfil de Dirceu e sua vida atual. Sem julgamentos, mas com a descrição de cada detalhe que chamou a atenção de Daniela. Suas companhias, seus encontros com empresários e políticos, seus gestos, suas roupas e algumas merdas ditas que, depois, Dirceu tratou de negar.

Meu quarto está uma zona. Pelo chão, bolsas da Betty Boop, uma sacola da Audrey Hepburn, sapatos, um livro sobre rally, a Rolling Stone, CartaCapital, livros. À minha frente, o título, em letras grande, da matéria: "O Consultor". Existe um quê de cinematográfico nisso. "O Consultor".
Decido que é hora de colocar um ponto final nesse texto, já passa da meia-noite*, meu gato dorme em cima de minha cama, apoiado em "O Diabo Veste Prada".

Parece que minha relação com a política beira a indiferença. Talvez seja a descrença, a falta de esperança. Mas não gastarei mais uma página de caderno tentando desvendar por quê. Por enquanto, vou passar essas palavras para o computador e, depois, enquanto leio um livro sobre moda, comportamento e jardinagem assinado por Camilla Morton ("Como andar de salto alto", com prefácio de John Galliano), uma pergunta ficará: que diabos eu ia escrever com o título "The Golden's Motorcycles"?

(* Ok. Agora já passa da uma.)

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